sábado, 14 de janeiro de 2012

Capítulo um - parte final


Desculpe pela demora para atualizar o site. Estive ocupado pesquisando sobre barcos e espadas medievais. Descobri o quão frustrante é passar horas fazendo uma busca e não conseguir encontrar aquilo que se procura. Felizmente, para tudo há um jeito (que neste caso, consistiu de alterar algumas informações da história, já que não consegui encontrar nenhuma confirmação histórica do que havia escrito).
Durante este tempo aproveite para atualizar o site. Decidi que seria mais prático criar uma página própria para cada um dos meus projetes, e através desta página conseguira acessar os capítulos de forma individual. Isto será bem mais prático na hora em que for ler um capítulo todo. Claro que continuarei com as postagens semanais (ou pelo menos, o mais próximo disso).


Como ontem foi sexta-feira 13, acabei escrevendo um conto com temática de ficção cientifica e terror psicológico. Na verdade não sei se é considerado terror, a história de modo geral é um pouco diferente do estilo usual que escrevo. Se tudo der certo, estarei divulgando o texto aqui na próxima semana, inaugurando a seção de contos.


Espero que gostem do final do primeiro capítulo. Comentem dando a sua opinião.
 Até a próxima.


– Ouvi dizer que tem ladrões que atacam os viajantes – Disse Richard um garoto de cabelos loiros que cavalgava logo atrás de Alex.
– Está com medo? – Brincou Lucas.
– É claro que não – Revidou Richard emburrado.
– Garotos, parem de conversa. Vocês realmente acham que vai ter alguém que vai tentar nos atacar? – Perguntou Sir Eloi – Somos oito cavaleiros completamente armados acompanhando a carruagem da Condessa. Possuímos os cavalos mais velozes de todos os feudos, no pior dos casos poderemos despistar qualquer inimigo.
– E quanto aos charlatões? – Perguntou Lucas.
– O que têm eles? – Disse Alex confuso.
– Então você não conhece a reputação dela? – Sussurrou Lucas – Dizem que a Condessa é enganada facilmente e adora todas essas histórias de misticismo.
– Não fique espalhando boatos. Lembre-se que ela é quem dá as ordens por aqui. Não se preocupe, eu não deixarei que nada ocorra nesta viagem – Falou confiante Sir Eloi – Já estamos viajando a uma semana e chegaremos a Acheflow no máximo até amanhã. Até agora não ouve nenhum incidente e espero que continue assim.
– Sir Eloi, eu não queria dizer nada, mas olhe – Comentou Richard apontando para a frente.
Preso a uma árvore tinha uma placa em que era possível ler entalhado: “Preveja seu futuro com Rishi, o magnífico!”.
– Esse tipo de charlatão é o pior – Disse Sir Eloi balançando a cabeça – Torçam para que a Condessa não leia a placa...
Senhor, acho que é tarde – Avisou Lucas.
A frente o condutor da carruagem parava os quatro cavalos e a porta era aberta. O cabelo loiro-claro da condessa se destacava contra a vegetação verde escura e ela tentava caminhar sem sujar o vestido. Ela olhou para frente e para trás antes de dizer:
– O que vocês estão esperando? Venham me ajudar.
Com um movimento de cabeça de Sir Eloi dois cavaleiros que estavam à frente da carruagem desceram de suas montarias e foram ajudá-la a caminhar pela estrada de terra até a simples barraca em que havia um senhor encapuzado.
Fiquem de olhos abertos, aposto que ele vai tentar roubar alguma joia – Instruiu Sir Eloi deixando uma das mãos próxima a sua arma.
Joias era o que não faltava. Tinha anéis em ambas as mãos e um colar de diamante. Não entendiam para que era necessário se arrumar tanto para uma simples viagem, seria mais seguro se deixasse tudo guardado no interior da carruagem e só as utilizasse quando estivesse no interior do castelo.
Dois guardas estavam ao lado dela. Os outros dois vigiavam a carruagem para não ser assaltada em uma emboscada. Por fim, os outros quatro observavam montados qualquer aproximação súbita, ou movimento estranho daquele homem encapuzado.
A condessa sentou em uma cadeira na frente da pequena mesa cheia de itens estranhos, iluminado a luz de velas. Sentado do outro lado estava aquele que dizia ser o magnífico Rishi.
– Desculpe, mas qual o seu nome bela senhora? – Disse ele com uma reverência.
A condessa soltou uma risadinha com o gracejo.
– Sou a Condessa Laurenne de Gavriewallis.
– Encantado em poder me encontrar com tão bela dama. Eu sou o magnífico Rishi! – Disse arrancando o capuz e revelando uma aparência bem mais jovem do que era esperado. Seus cabelos castanho-escuros eram ondulados e estavam penteados para trás e seus olhos não pareciam os olhos de um sábio, eram olhos castanhos comuns com uma aparência um pouco melancólica, se destacando na pele pálida – Aceita chá preto?
– Sim, por favor.
Na bancada cheia de itens estranhos ele depositou duas xícaras brancas de porcelana e um bule fumegante. Todos os guardas olharam receosos com medo de que ele tivesse colocado algum tipo de veneno e percebendo a tensão no ambiente Rishi disse:
– Por um acaso algum dos senhores também deseja chá? Se quiser eu tenho mais uma xícara.
– Eu aceito – Disse Alex desmontando do cavalo.
Ele depositou as folhas processadas de chá e encheu a xícara de água fervente. Rishi foi o primeiro a tomar, em seguida Alex e só depois de passar alguns minutos que a Condessa provou o liquido fumegante.
– Agora vamos ao que interessa – Disse Rishi apresentando um baralho – Escolha uma carta, qualquer uma.
A Condessa puxou uma carta.
– Eu sinto que a carta escolhida foi o arcano maior, a Imperatriz – Adivinhou Rishi colocando a mão na testa e se concentrando profundamente.
– Sim, é essa mesma – Disse a Condessa empolgada.
– Significa prosperidade e realização. É uma carta que representa a sabedoria e a riqueza.
– Que ótimas noticias.
– Espere um pouco – Disse Alex puxando outra carta aleatória do baralho. Também era a Imperatriz, assim como as próximas duas que sorrateiramente pegou do baralho depositado na mesa.
– Algum problema? – Perguntou Rishi.
– Não – Disse Alex devolvendo as cartas e completando em tom de zombaria – Rishi, o magnífico.
– Acredito que a consulta termina aqui. Obrigado pela paciência e sucesso em seu futuro.
A Condessa deixou uma moeda de prata em cima da mesa, agradeceu e retornou para a sua carruagem.
– Você é um trapaceiro – Disse Alex – No baralho todas as cartas eram “a Imperatriz”.
– E o que tem demais nisso? Não é isso que todas as pessoas querem? Sabedoria e riqueza? – Revidou ríspido – Eu apenas estou ganhando meu dinheiro honestamente.
– Honestamente? Você não sabe o que é um trabalho honesto. Vocês são todos iguais, ficam fazendo truques e enganando viajantes. Dizendo que possuem habilidades incríveis enquanto na verdade só fazem tramoias.
– Eu posso prever o futuro – Disse Rishi sério – Mas não recomendo que as pessoas o saibam.
– Qual será o truque desta vez? – Perguntou Alex rindo.
– Não tem truque – Comentou Rishi pegando a xícara que a Condessa utilizou com as duas mãos – É teimancia.
Ele olhou fixamente para a borra deixada no fundo, instantes que pareceram durar uma eternidade, antes de declarar em tom sombrio.
– A Condessa irá morrer daqui três dias. Eu aconselho a não estar próximo dela.
– Isso por acaso é uma ameaça? – Perguntou Alex de forma intimidadora.
– Não, pelo contrário, é um conselho. E por isso é bom segui-lo.
– Vamos Alex – Disse Sir Eloi – Está atrasando a viagem. Não se deve ficar acreditando em tudo que eles dizem.
Alex voltou a montar em seu cavalo.
– Alguma joia foi roubada?
– Acredito que não. Pelo menos eu não notei nada.
– Senhor – Disse Joel se aproximando, um dos guardas que ajudara a Condessa a descer da carruagem e andar pela estrada sem sujar o seu vestido.
– O que houve?
Ele parecia visivelmente constrangido.
– O meu cavalo foi roubado.
Quando olharam para dentro da tenda, ela estava vazia e Rishi o magnífico desaparecera com o seu melhor truque.

O restante da viagem transcorreu de forma tranquila. Na manhã do dia seguinte passaram pelos portões de entrada do feudo de Acheflow e se dirigiram para o grandioso castelo. Era uma cidade muito mais movimentada e bem maior. O castelo era magnífico. Grande e protegido. Entretanto ele sentia falta dos verdes campos de treinamento de Caerwyntc e da calma do leste.
Havia inúmeros nobres hospedados no castelo e por conta disso uma quantidade excessiva de guardas. Alex preferia assim. Não teve coragem de contar para seus companheiros sobre o conselho de Rishi, com medo de zombarem dele. Contou apenas para o capitão Eloi, que disse para que ele não se preocupasse. Ninguém conseguiria adentrar aquele castelo. Mesmo assim algo parecia errado. Talvez fosse somente coisa da sua cabeça, mas Alex sentia que realmente algo de ruim iria acontecer.
No terceiro dia, que tecnicamente era para a Condessa morrer, o jovem cavaleiro decidiu se encarregar pessoalmente de sua guarda. Fosse provando tudo que ela comesse para ter certeza de que não estava envenenado, ou então acompanhando-a para todos os lugares. De inicio ela achou aquela atitude estranha, mas resolveu não contrariar o guarda, que na sua opinião era um dos mais bonitos de sua equipe.
– O que está fazendo? – Perguntou Lucas de passagem depois de avistar Alex parado em frente a porta de um quarto.
– Montando guarda para a Condessa.
– Sir Eloi está nos convocando no saguão principal. É bom ir até lá.
– Mas...
– Você realmente acha que alguém conseguira entrar no castelo? Com todos esses guardas patrulhando? Não se preocupe, será apenas alguns minutos.
Contra sua vontade Alex concordou em segui-lo. Durante todo o trajeto sentia que algo estava errado. Ainda estava na metade do dia e olhando pela janela dava para ver pesadas nuvens se formando no céu.
Quando chegou no salão e percebeu que não havia ninguém seus temores se concretizaram.
– Que estranho. Eu tenho certeza que Richard disse para nos dirigirmos para cá.
– É uma distração – Falou Alex para si mesmo antes de voltar correndo para o quarto da Condessa.
Pelos corredores existiam alguns guardas patrulhando, mas nenhum rosto familiar a quem pudesse recorrer. A porta do quarto parecia intacta, era um bom sinal. Talvez tivesse retornado a tempo ou no fim não fosse nenhuma cilada.
Alex bateu na porta. Estava destrancada.
– Com licença Condessa, apenas quero saber se a senhora está bem e se não precisa de nada.
Não houve resposta.
– Condessa? Está dormindo? Desculpe invadir a privacidade de seu quarto, mas estou entrando.
Abriu a porta devagar. A cortina na janela deixava entrar apenas parcialmente a luz, conferindo uma aparência sombria ao aposento. Deitado na cama estava um corpo imóvel e ao se aproximar confirmou ser a Condessa. Se não prestasse atenção diria que ela estava apenas dormindo, mas os finos lençóis brancos manchados de vermelho acabaram com qualquer dúvida. Chegara tarde demais. Observou a cena sem tocar em nada. Com certeza ela fora assassinada. Mas por quem? Como? E por quê?
Olhou pela janela. Era muito alto para conseguir descer sem o auxilio de uma corda e mesmo se tivesse uma, seria facilmente avistado a plena luz do dia. Como alguém conseguiu entrar no castelo? Foi então que ouviu leves batidas na porta.
– Condessa, viemos trazer o seu jantar como a senhora solicitou. Estamos entrando – Soou a voz de uma das empregadas.
No mesmo instante em que ela abriu a porta e viu a condessa caída na cama com manchas de sangue e um homem no seu quarto deduziu a sua morte e gritou por ajuda. Mais duas empregadas que estavam logo atrás dela começaram a gritar também.
Alex tinha que pensar rápido. Se não fizesse nada seria acusado de ser o autor daquele assassinato antes que pudesse pensar em dar qualquer explicação. Rapidamente algum outro guarda viria e tentaria imobilizá-lo. Saltar pela janela seria loucura, teria de ir por dentro do castelo e torcer para que ninguém o detivesse pelo caminho.
Se você é algum nobre que passeia pelo castelo de Acheflow deve achar um lugar adorável. Os longos corredores e as escadarias mais longas ainda. As grandes janelas que permitiam a entrada de abundante quantidade de luz, além de prover uma bela vista. A segurança dos altos muros, praticamente intransponíveis tanto para aqueles que tentam entrar quanto para aqueles que tentam sair. E o melhor de tudo: dezenas, ou até centenas de guardas patrulhando todo lugar.
No entanto se você for Alex tudo que verá são corredores intermináveis e escadas altíssimas. Janelas grandes de onde qualquer um poderia observá-lo com facilidade. E se não bastasse os altos muros, ainda existiam dezenas de guardas prontos para acertá-lo com uma flecha, uma espada ou uma lança.
Na fuga tudo que conseguia pensar era a quem poderia pedir ajuda. Estava em um feudo estranho, distante a mais de uma semana a cavalo de sua casa. A pessoa para quem trabalhava estava agora morta, e os demais cavaleiros que trabalhavam com ele poderiam ser traidores. Algum deles havia o tirado da frente da porta para que pudesse dar continuidade ao plano sórdido. Ou até mesmo os três decidiram se juntar, matar a Condessa e colocar a culpa nele.
Ouviu o eco de passos no corredor virou na direção contrária e diminuiu o ritmo. Eram dois guardas que nunca havia visto.
– O que houve? – Perguntou Alex preocupado.
– Soaram o alarme – Explicou o da direita – Dizem que houve um assassinato, mataram uma condessa de Nyneve.
– Já conseguiram prender o culpado?
– Acredito que não – Respondeu o outro – Mas isso se resolvera rapidamente. Não podemos deixar que alguém seja morto sobre a nossa guarda. Além de ter tirado uma vida, ele está manchando a reputação de nosso castelo.
– Alguém tem ideia de como é o suspeito?
– Apenas boatos. Dizem que era um dos próprios guardas dela, do feudo de Nyneve.
– Eu não deixarei que isso fique assim – Disse Alex parecendo estar furioso – Irei me reunir com meus colegas no saguão e caçarei esse homem até o final por manchar a reputação daquele feudo.
Sem mais delongas, Alex voltou a correr em direção a saída enquanto os dois guardas se distanciavam cada vez mais. Conseguiu enganar mais cinco ou seis guardas até chegar no saguão. Sabia que aquilo não funcionaria para sempre, então não tinha tempo a perder. Primeiramente pensou em passar no seu quarto em busca de suprimentos que pudesse utilizar na fuga até que conseguisse provar a sua inocência. Mas isso seria muito arriscado. Assim que descobrissem sua identidade seria o primeiro lugar que montariam guarda. Caso pegasse um cavalo emprestado no estabulo acabaria chamando muita atenção.
Continuou se passando por mais um dos guardas e por pouco não conseguiu sair de dentro do castelo. Pelo menos vinte homens armados guardavam o portão.
– O rei disse que devemos iniciar as buscas na floresta antes que comece a chover. Ele pode já ter fugido.
– Quem é você? – Perguntou um dos guardas apontando a lança para seu pescoço.
Alex parou instantes para pensar e tudo que conseguiu responder foi:
– Sir Conlan Sheridan. Eu apenas estou repassando ordens. Se você quiser se entender depois com o Rei de Acheflow, talvez ele decida escolher um de vocês para levar para forca enquanto o verdadeiro assassino foge.
Por instantes a lâmina continuou apontada para o seu pescoço e então ele abaixou a arma e gritou:
– Abram os portões. Vamos começar a busca nas florestas e na cidade!
Os pesados portões de madeira maciça foram destravados e abertos. Quando descobrissem que o rei não havia ordenado nada e que Sir Conlan nunca esteve no castelo já seria tarde demais.
Uma pesada chuva iniciou diminuindo consideravelmente a claridade do dia. Ninguém na cidade iria fornecer abrigo a um completo desconhecido e apesar de os guardas estarem procurando nas florestas dos arredores, seria sua melhor opção para escapar do feudo.
Acompanhou um grupo de guardas até a fronteira. Para trás ia ficando um caos cada vez maior dentro do castelo e toda a sua vida de trabalhador honesto. Assim que os grupos se dividiram para ter uma maior eficiência na busca, ele aproveitou o momento de distração para se separar dos outros guardas. Mensageiros a qualquer momento poderiam chegar com as verdadeiras ordens do rei ou uma descrição sua.
Lembrou-se do conselho de três dias atrás. Que a Condessa morreria e seria melhor se ele não estivesse perto. Rishi o magnífico não mentiu nem sobre seus poderes e nem sobre o conselho. Se naquele lugar houvesse uma única pessoa que acreditaria nele e não o entregaria ao rei, com certeza seria ele. Não conseguia entender como se envolvera naquela confusão e entendia menos ainda o que estava prestes a fazer, mas era o momento de pedir ajuda a aquele trapaceiro.

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